Faltam serviços sociais básicos aos reassentados de Pussulane


Foto: O País

As famílias vítimas do desabamento da lixeira de Hulene não têm acesso aos serviços sociais básicos no bairro de Pussulane, distrito de Marracuene, Província de Maputo. De uma fonte do Ministério da Terra e Ambiente, o jornal “O País” soube que o projecto de reassentamento contempla tais infra-estruturas e que poderão ser construídas após a conclusão do projecto em 2024.

Há uma hora da Cidade de Maputo, no distrito de Marracuene, Província de Maputo, foram reassentadas as famílias que foram vítimas do desabamento da lixeira de Hulene. De longe, as casas chamam a atenção de qualquer um que dispensa seu tempo para as apreciar.

São do tipo três, pintadas, com casa de banho e cozinha interiores. Têm água e luz. As primeiras 53 famílias que já ocupam as casas gostam. Mas reza o ditado que não há bela sem senão.

O “senão”, neste caso, é a falta de serviços sociais básicos no bairro de reassentamento. Os reassentados não têm unidade sanitária, escola, mercado, um posto policial, entre vários outros serviços.

“É difícil vivermos assim. Alguns dos nossos filhos não vão à escola porque nós, pais, não temos dinheiro de transporte para todos os dias. Hospital é um luxo. Fomos abandonados à nossa própria sorte”, contou Olívia da Cris, reassentada do bairro de Pussulane.

Desde Dezembro do ano passado que as famílias estão hospedadas nas casas de reassentamento e, de lá a esta parte, não há nenhum sinal de infra-estruturas sociais. Cada um vira-se como pode.

“Hospital é daqui até Marracuene, mas há problemas de transporte. Não é fácil tomar um ‘chapa’. É muito difícil as crianças irem à escola. Para as crianças poderem ir à escola, temos que dar dinheiro de transporte. Se não temos, não vão à escola porque é um pouco distante. Quando alguém fica doente à noite, é só aguentar até ao dia seguinte”, detalhou Carmena Matavel, também reassentada de Pussulane.

Ao sair dos arredores da lixeira de Hulene, os reassentados esperavam ter uma vida melhor no bairro de reassentamento, mas foram traídos pelas expectativas.

“A nossa vida não era boa em Hulene. A lama e as águas negras provocavam-nos doenças. Aqui, estamos num bom sítio, mas doutro lado (Hulene) tínhamos onde desenrascar”, lembrou Carmelinda Carlos, reassentada de Pussulane e desabafou: “Deste lado (referindo-se ao bairro de reassentamento), estamos bem, mas sem onde ‘desenrascar’. Estamos a sofrer com os nossos filhos. Não há emprego. Estão mesmo a sofrer”.

É que as vítimas da lixeira de Hulene viviam de comércio, mas, no bairro de Pussulane, não há mercado. As pequenas hortas é que garantem a alimentação das famílias.

“Trabalhávamos na lixeira de Hulene. ‘Desenrascávamos’ e vendíamos. Era raro comermos verduras. Mas, agora, cultivamos verduras e comemos. Aqui, em casa, todos estamos com dores de estômago, porque não variamos os alimentos”, revelou Carmelinda.

Aquando do seu reassentamento, de acordo com Carmena Matavel, foram prometidos todos os serviços sociais básicos, mas, até hoje, nem água vai, nem água vem. E os reassentados não têm onde colocar as preocupações, porque há 10 meses que nenhum governante coloca lá os pés.

“Estamos isolados. Desde que vieram deixar-nos, ainda não vieram visitar-nos. Desde aquele dia que vieram entregar-nos as chaves”, queixou-se Luís Zacarias, reassentado de Pussulane.

Sobre as queixas dos reassentados, o jornal “O País” soube junto do Ministério da Terra e Ambiente que o projecto contempla os serviços sociais e que poderão existir depois da conclusão do projecto, prevista para 2024.

Enquanto isso, o nosso entrevistado desdramatiza as preocupações em relação à escola e unidade sanitária, referindo que tais infra-estruturas existem no bairro de Pussulane.

Estas casas, de acordo com as informações a que tivemos acesso, não foram abandonadas como parece ser, apenas aguardam um visto do Tribunal Administrativo para a renovação dos contratos com os empreiteiros, e isto poderá acontecer até meados de Novembro deste ano.

Até ao momento, foram reassentadas em Pussulane, distrito de Marracuene, Província de Maputo, 53 famílias de um total de 256 previstas.